sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Nova súmula dispensa AR na comunicação ao consumidor sobre negativação de seu nome - Postagem: Luiz Carlos Nogueira

9/10/2009 - 09:47 | Fonte: STJ

O entendimento da Segunda Seção do Superior Tribunal de Justiça de que a notificação de inscrição em cadastro de proteção ao crédito não precisar ser feita com aviso de recebimento (AR) agora está sumulado.

Os ministros aprovaram a Súmula de número 404, que ficou com a seguinte redação: “é dispensável o Aviso de Recebimento (AR) na carta de comunicação ao consumidor sobre a negativação de seu nome em bancos de dados e cadastros”.

A questão foi julgada recentemente seguindo o rito da Lei dos Recursos Repetitivos. Na ocasião, a Seção, seguindo o voto da relatora, ministra Nancy Andrighi, concluiu que o dever fixado no parágrafo 2° do artigo 43 do Código de Defesa do Consumidor (CDC), de comunicação prévia do consumidor acerca da inscrição de seu nome em cadastros de inadimplentes, deve ser considerado cumprido pelo órgão de manutenção do cadastro com o envio de correspondência ao endereço fornecido pelo credor. Sendo, pois, desnecessária a comprovação da ciência do destinatário mediante apresentação de aviso de recebimento (AR).

Na ocasião, os ministros determinaram que o tema fosse sumulado.

Matéria extraída do Site Âmbito Jurídico:

http://www.ambito-juridico.com.br/site/?n_link=visualiza_noticia&id_caderno=20&id_noticia=43190

domingo, 25 de outubro de 2009

Jabuticaba elétrica - postada por Luiz Carlos Nogueira


“Obrigar os brasileiros a seguir um novo padrão e trocar todas
as tomadas da casa é uma intervenção estatal absurda, inútil
dispendiosa. Deus nos livre dos comitês...”

:: Carolina Romanini

Focinho de porco não é tomada", dizem os brasileiros quando querem sinalizar que alguém se deixou enganar pelas aparências e fez uma escolha errada. Agora, um comitê, e tem sempre um comitê a abrigar especialistas em tudo, menos em bom senso, tirou dos brasileiros essa frase. Uma comissão convocada pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) decidiu que os brasileiros terão de trocar todas as tomadas de suas casas para se adaptar ao novo padrão, com três pinos. A nova tomada é uma espécie de jabuticaba elétrica. Seu formato só existirá no Brasil. Isso não é incomum. A Comissão Eletrotécnica Internacional (IEC) criou na década de 80 um modelo de plugue e tomada para servir de padrão mundial. Em vão. Não colou. Cada país tende a adotar um padrão próprio. As razões para isso são, quase sempre, as piores possíveis. Elas vão do nacionalismo ao gosto sádico dos comitês de interferir na vida privada dos cidadãos.

Há centenas de modelos de plugue e tomada, sendo os mais comuns aqueles com pinos redondos ou retangulares (na vertical). Diante disso, o Brasil decidiu contribuir para a confusão geral. A partir do início do próximo ano, torna-se obrigatório em produtos fabricados por aqui ou importados o uso de um padrão de plugues e tomadas diferente de tudo aquilo que se utiliza no mundo. O plano da ABNT e do Inmetro (órgão federal responsável pelo controle de qualidade industrial) é substituir todos os terminais elétricos vendidos no país até julho de 2011. Prevê-se que a completa adaptação das residências ao novo padrão elétrico demore até duas décadas.

De modo genérico, pode-se dizer que os pinos redondos são preferidos nas regiões nas quais predomina o fornecimento de eletricidade em 220 volts, como a Europa. O pino retangular é mais usado com a voltagem 110, daí sua popularidade na América do Norte. No Brasil, dependendo da cidade, o fornecimento pode ser em 220 ou 110 volts, ou ambos. A variação na voltagem decorre, basicamente, da decisão tomada pela empresa que instalou a rede elétrica no passado. Estima-se que se possam encontrar nas casas brasileiras por volta de quinze modelos de tomada. Há cerca de trinta anos foi implantada no país a tomada popularmente conhecida como "universal". Ela aceita tanto o pino redondo quanto o retangular e tem a simpatia geral – mas não do comitê encarregado de complicar a questão. "Não faltaram sugestões para que a universal fosse adaptada às exigências de maior segurança e se tornasse o padrão brasileiro", diz o engenheiro eletricista Hilton Moreno, que acompanhou de perto o processo de mudança. Mas a ideia foi rejeitada no comitê.

O padrão brasileiro será de pino redondo, independentemente da voltagem. Estima-se que 80% dos plugues usados no país sejam desse tipo. Mas nem todos servirão nos furos da nova tomada, cujo tamanho varia de acordo com a amperagem. Será necessário recorrer a um adaptador. Porém é bom ser rápido, pois o Inmetro não quer saber de facilitar a vida de ninguém e pretende proibir a venda de adaptadores dentro de três anos. A necessidade de maior segurança é o motivo alegado pela ABNT para a mudança da qual ninguém sentia falta. Em teoria, alguém pode tocar nos pinos de uma tomada e tomar um choque. Não há estatísticas sobre a frequência e a gravidades desse tipo de incidente. Mas, como o novo sistema inclui um plugue com terminal sextavado para ser encaixado numa tomada com concavidade, a possibilidade de um choque, que já era pequena, se tornou ainda mais rara. Esse problema, isoladamente, poderia ser resolvido apenas com a padronização da concavidade nas tomadas do tipo "universal", ou em quaisquer outras que fossem usadas por um grande número de países. Resolveria, também, se o isolante que já existe em grande parte dos plugues brasileiros (aquela capinha preta de plástico que vai até a metade dos pinos metálicos) se tornasse obrigatório. Enfim, teria sido possível resolver a questão da segurança sem a necessidade de obrigar ao incômodo e dispendioso processo da troca por um modelo que só existirá dentro das fronteiras nacionais.

Mas, se as coisas fossem assim tão fáceis e baratas, para que um comitê? Coisas estranhas foram elucubradas por seus membros. Uma delas é o plano de usar plugues e tomadas para mexer na balança comercial brasileira. Ao criar um modelo nacional, o comitê entendeu que isso seria uma forma de ampliar o mercado de eletroeletrônicos produzidos no Brasil. "Essa mudança sem dúvida beneficiará as empresas brasileiras", diz Alfredo Lobo, diretor de qualidade do Inmetro. É uma ideia interessante: longe de ser confundida com focinho de porco, a tomada jabuticaba deve ser vista como uma bandeira do protecionismo comercial. É igualmente razoável imaginar o efeito contrário. "O fato de os terminais elétricos brasileiros terem ficado diferentes dos existentes no resto do mundo cria um problema que não existia", diz o engenheiro eletricista Norberto Nery, do Instituto Mauá de Tecnologia. "Agora os aparelhos importados precisarão seguir o padrão brasileiro e os exportados precisarão ser adaptados às normas estrangeiras."

A substituição de todos os tipos de tomada pelo novo padrão acarretará transtornos homéricos na vida do brasileiro. A nova tomada tem dois tamanhos, de acordo com a amperagem, que é a quantidade de eletricidade que passa da instalação elétrica para o aparelho. Os plugues e tomadas de 10 ampères, menos potentes, têm o diâmetro de 4 milímetros, e os de 20 ampères, utilizados em aparelhos como micro-ondas, têm 4,8 milímetros. A adaptação só será possível e realmente segura se as redes elétricas das habitações passarem por uma reforma completa e bem planejada. É preciso agora instalar a fiação e tomadas específicas em locais estratégicos, onde já se prevê a instalação de um equipamento eletroeletrônico de consumo adequado para cada terminal. No final, sobrou para nós.

Meus comentários:

– Matéria da Revista Veja (Edição 2136, 28-10-2009, págs. 100, 101), — extraída do Site do Deputado José Carlos Alelúia. Confiram clicando no link:

http://www.deputadoaleluia.com.br/website/default.asp?a=11&cod=24529

Segundo informações da articulista Carolina Romanini:

o modelo brasileiro é usado em um único país;

o modelo europeu é usado por 45% da população mundial em 104 países;

o modelo americano é usado por 12% da população mundial em 46 países;

o modelo inglês é usado por 8,5% da população mundial em 41 países;

o modelo paquistanês é usado por 15% da população mundial em 39 países;

o modelo australiano é usado por 21% da população mundial em 15 países;

o modelo universal – a tomada engenhosa, que aceita os pinos mais comuns, será extinta no Brasil.


sexta-feira, 23 de outubro de 2009

CUIDADO!! Banco não responde por vazamento de senha no computador do cliente

Banco não responde por vazamento de senha no computador do cliente

Banco não responde por vazamento de senha no computador do cliente

21/10/2009 - 15:05 | Fonte: TJRS


Publicação no Site Âmbito Jurídico:

http://www.ambito-juridico.com.br/site/?n_link=visualiza_noticia&id_caderno=20&id_noticia=42971


A 15ª Câmara Cível do TJRS reformou sentença e isentou o Banco Itaú S.A de responsabilidade por saques efetuados em conta de cliente, feitos por terceiro via internet. Foi comprovado que a operação fraudulenta foi realizada por meio de programa de computador – conhecido spyware ou como cavalo de troia - que captura senhas e demais informações sigilosas do usuário. Os Desembargadores concluíram que o correntista não adotou os cuidados necessários quanto à forma de se prevenir contra invasões de hackers em seu sistema.

Ao tentar acessar sua conta via internet, o autor (cliente) teve a senha recusada. Diante do fato, dirigiu-se à agência do banco réu, onde foi realizado o recadastramento das senhas e a liberação da conta para movimentação. Quatro dias depois, tentou acessar a conta e novamente foi informado da suspensão da senha. Assim, alterou-as no dia seguinte. Durante o período da tarde, no entanto, foi surpreendido ao descobrir que haviam sido sacados R$ 4.487,53 de sua conta.

Na Justiça de 1º Grau, a Juíza Aline Santos Guaranha, da Comarca de São Leopoldo, entendeu que a instituição financeira prestou serviço defeituoso ao cliente, pois descumpriu o dever de vigilância e cuidado, além de incluir indevidamente o nome do autor nos órgãos de proteção ao crédito. Foi considerado também que a fraude praticada por terceiro não eximia a ré de responsabilidade, aplicando-se então a teoria do risco. De acordo com a teoria, “aquele que desenvolve atividade potencialmente geradora de danos, auferindo lucros, deve suportar os riscos dela advindos”. E determinou ao Banco Itaú S.A. o pagamento de R$ 4.487,53 por danos materiais e de 10 salários mínimos a título de danos morais.

Apelação

O Banco recorreu ao Tribunal de Justiça solicitando a reforma da sentença. Alegou que o sistema é totalmente seguro, não suscetível a ação de fraudadores. Sustentou que, ao acessar, é solicitado ao cliente os números de agência, conta e senha eletrônica, além da digitação de um dos códigos do cartão de segurança para a realização de operações específicas. E ressaltou, ainda, que a tecnologia SSL codifica de forma secreta todas as informações enviadas à instituição.

Ao proferir o voto, o relator, Desembargador Otávio Augusto de Freitas Barcellos, citou precedente semelhante: “É realmente possível a um hacker fraudar o sistema de segurança de um microcomputador doméstico ou corporativo e entrar em contas de outras pessoas, com os chamados spywares e Cavalos de Troia, que são programas de computador que ferem a privacidade dos usuários e roubam informações confidenciais, inclusive, senhas e números de contas bancárias. A instalação de tais programas é por vezes automática, sem o conhecimento do usuário”. Ele observa também que no site do Banco Itaú há uma seção de Segurança e Privacidade, onde há informações que alertam e dão dicas de como evitar fraudes.

Assim, o magistrado afastou a responsabilidade do banco réu de indenizar. “Não houve falha na prestação do serviço, nem mesmo negligência no que respeita à segurança do site disponibilizado”, justifica. Continua, ainda, que a invasão por terceiro ocorreu no computador no qual o autor realizava as operações.

“Em consequência, foi do autor a negligência no sentido de não se precaver das fraudes que eram anunciadas no próprio site do banco, com dicas para que os consumidores pudessem se prevenir, bem como a imprudência de informar a terceiros seus dados pessoais e sigilosos”, conclui.

Também participaram do julgamento, votando com o relator, os Desembargadores Vicente Barroco de Vasconcellos e Paulo Roberto Félix.

Proc. 70031396849

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Fabricantes, fornecedores e vendedores respondem solidariamente por danos a consumidores - Postagem feita por Luiz Carlos Nogueira

DECISÃO


Fonte: STJ – Confiram acessando o link abaixo:


http://www.stj.gov.br/portal_stj/publicacao/engine.wsp?tmp.area=398&tmp.texto=94228


A Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) decidiu que fornecedores, fabricantes e todos os participantes da cadeia produtiva devem responder solidariamente pelos possíveis danos que produtos defeituosos ou serviços causem aos consumidores.

A Macro Economia Distribuidor de Alimentos Ltda. havia sido autuada pelo Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro) por duas irregularidades em uma massa de modelar: a ausência de símbolo de identificação de certificação e a diferença quantitativa nos produtos. A empresa enviou ao Inmetro cópias das notas fiscais que comprovavam a origem dos produtos. O intuito era demonstrar que a responsabilidade seria do fabricante e não do estabelecimento comercial. O juiz de origem chegou a declarar a nulidade do processo, sob a alegação de que a empresa não poderia ter sido autuada, uma vez que o fabricante foi identificado, excluindo a responsabilidade do vendedor.

O Inmetro recorreu alegando a violação do Código de Defesa do Consumidor, que trata da responsabilidade solidária dos fornecedores nos casos de defeito qualitativo e quantitativo. O recorrente interpôs também recurso extraordinário que foi admitido na origem e não houve apresentação das contrarrazões.

O relator do recurso especial, ministro Humberto Martins, observou que o Inmetro, por ser uma autarquia reguladora, com competência fiscalizadora das relações de consumo, deve exercer o poder de polícia, de forma administrativa, na área de avaliação da conformidade, nos produtos por ele regulamentados ou por competência que lhe seja delegada.

O relator deixa claro que a responsabilidade do fornecedor é pela totalidade do produto final, não apenas pela parte que contribuiu, formando-se a solidariedade entre os fornecedores intermediários e todos os participantes da cadeia produtiva diante dos possíveis danos que o produto final possa causar aos consumidores. “Observa-se que a ausência e manipulação de informação causam dano direto ao consumidor”, completou o relator.

A Segunda Turma foi unânime ao dar provimento ao recurso especial. Todos acompanharam o entendimento do ministro Humberto Martins que entendeu não haver dúvidas que o vendedor pode ser responsabilizado solidariamente por ilícitos administrativos, civis e penais de consumo, pois a relação de consumo é una.

Coordenadoria de Editoria e Imprensa

VEJAM O INTEIRO TEOR DO ACÓRDÃO:


https://ww2.stj.jus.br/revistaeletronica/Abre_Documento.asp?sSeq=917134&sReg=200900823091&sData=20091014&formato=HTML


RECURSO ESPECIAL Nº 1.118.302 - SC (2009⁄0082309-1)


RELATOR

:

MINISTRO HUMBERTO MARTINS

RECORRENTE

:

INSTITUTO NACIONAL DE METROLOGIA NORMALIZAÇÃO E QUALIDADE INDUSTRIAL INMETRO

PROCURADOR

:

MOZART LEITE DE OLIVEIRA JUNIOR E OUTRO(S)

RECORRIDO

:

MACRO ECONOMIA DISTRIBUIDOR DE ALIMENTOS LTDA

ADVOGADO

:

RICARDO CARLOS RIPKE E OUTRO(S)

EMENTA

ADMINISTRATIVO – REGULAÇÃO – PODER DE POLÍCIA ADMINISTRATIVA – FISCALIZAÇÃO DE RELAÇÃO DE CONSUMO – INMETRO – COMPETÊNCIA RELACIONADA A ASPECTOS DE CONFORMIDADE E METROLOGIA – DEVERES DE INFORMAÇÃO E DE TRANSPARÊNCIA QUANTITATIVA – VIOLAÇÃO – AUTUAÇÃO – ILÍCITO ADMINISTRATIVO DE CONSUMO – RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA DOS FORNECEDORES – POSSIBILIDADE.

1. A Constituição Federal⁄88 elegeu a defesa do consumidor como fundamento da ordem econômica pátria, inciso V do art. 170, possibilitando, assim, a criação de autarquias regulatórias como o INMETRO, com competência fiscalizatória das relações de consumo sob aspectos de conformidade e metrologia.

2. As violações a deveres de informação e de transparência quantitativa representam também ilícitos administrativos de consumo que podem ser sancionados pela autarquia em tela.

3. A responsabilidade civil nos ilícitos administrativos de consumo tem a mesma natureza ontológica da responsabilidade civil na relação jurídica base de consumo. Logo, é, por disposição legal, solidária.

4. O argumento do comerciante de que não fabricou o produto e de que o fabricante foi identificado não afasta a sua responsabilidade administrativa, pois não incide, in casu, o § 5º do art. 18 do CDC.

Recurso especial provido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas, acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça "A Turma, por unanimidade, deu provimento ao recurso, nos termos do voto do(a) Sr(a). Ministro(a)-Relator(a)." Os Srs. Ministros Herman Benjamin, Mauro Campbell Marques, Eliana Calmon e Castro Meira votaram com o Sr. Ministro Relator.

Brasília (DF), 1º de outubro de 2009(Data do Julgamento)

MINISTRO HUMBERTO MARTINS

Relator


RECURSO ESPECIAL Nº 1.118.302 - SC (2009⁄0082309-1)


RELATOR

:

MINISTRO HUMBERTO MARTINS

RECORRENTE

:

INSTITUTO NACIONAL DE METROLOGIA NORMALIZAÇÃO E QUALIDADE INDUSTRIAL INMETRO

PROCURADOR

:

MOZART LEITE DE OLIVEIRA JUNIOR E OUTRO(S)

RECORRIDO

:

MACRO ECONOMIA DISTRIBUIDOR DE ALIMENTOS LTDA

ADVOGADO

:

RICARDO CARLOS RIPKE E OUTRO(S)


RELATÓRIO


O EXMO. SR. MINISTRO HUMBERTO MARTINS (Relator):

Cuida-se de recurso especial interposto pelo INSTITUTO NACIONAL DE METROLOGIA NORMALIZAÇÃO E QUALIDADE INDUSTRIAL - INMETRO, com base na alínea "a" do inciso III do artigo 105 da Constituição Federal⁄88, contra acórdão do Tribunal Regional Federal da 4º Região assim ementado:


"ADMINISTRATIVO. MULTA. INMETRO.

No caso, o INMETRO recebeu da empresa cópia das notas fiscais que comprovam a origem dos produtos. Portanto a responsabilidade não é do comerciante, e sim do fabricante, conforme previsão legal." (fl. 358e)

O recorrente interpôs embargos de declaração (fls. 361e⁄363e), os quais foram parcialmente providos, para fim de prequestionamento (fls. 364e⁄367e).


Trata-se, na origem, de sentença que declarou a nulidade de autos de infração, sob a alegação de que a autuada não pode figurar como sujeito da relação de direito material, pois quando o fabricante é identificado fica excluída a responsabilidade do vendedor.


Alega o recorrente que foram violados os artigos 1º e 5º da Lei n. 9.933⁄99, e o inciso VIII do artigo 39 do Código de Defesa do Consumidor, que o artigo 5º enceta cláusula geral de responsabilidade de todas as pessoas que participam do comércio, e que o comerciante comprou "massa de modelar" sem rotulação especificada pelo CONMETRO e vendeu a mercadoria sem as devidas informações, com defeito de quantidade - praticando, portanto, conduta abusiva. (fls. 369e⁄375e)


O recorrente interpôs também recurso extraordinário (fls. 376e⁄382e), que foi inadmitido na origem (fls. 385e⁄387e).


O prazo para apresentação de contrarrazões transcorreu em branco. (fl. 383e)


O presente recurso especial foi admitido na origem. (fl. 384e)


É, no essencial, o relatório.


RECURSO ESPECIAL Nº 1.118.302 - SC (2009⁄0082309-1)


EMENTA

ADMINISTRATIVO – REGULAÇÃO – PODER DE POLÍCIA ADMINISTRATIVA – FISCALIZAÇÃO DE RELAÇÃO DE CONSUMO – INMETRO – COMPETÊNCIA RELACIONADA A ASPECTOS DE CONFORMIDADE E METROLOGIA – DEVERES DE INFORMAÇÃO E DE TRANSPARÊNCIA QUANTITATIVA – VIOLAÇÃO – AUTUAÇÃO – ILÍCITO ADMINISTRATIVO DE CONSUMO – RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA DOS FORNECEDORES – POSSIBILIDADE.

1. A Constituição Federal⁄88 elegeu a defesa do consumidor como fundamento da ordem econômica pátria, inciso V do art. 170, possibilitando, assim, a criação de autarquias regulatórias como o INMETRO, com competência fiscalizatória das relações de consumo sob aspectos de conformidade e metrologia.

2. As violações a deveres de informação e de transparência quantitativa representam também ilícitos administrativos de consumo que podem ser sancionados pela autarquia em tela.

3. A responsabilidade civil nos ilícitos administrativos de consumo tem a mesma natureza ontológica da responsabilidade civil na relação jurídica base de consumo. Logo, é, por disposição legal, solidária.

4. O argumento do comerciante de que não fabricou o produto e de que o fabricante foi identificado não afasta a sua responsabilidade administrativa, pois não incide, in casu, o § 5º do art. 18 do CDC.

Recurso especial provido.

VOTO


O EXMO. SR. MINISTRO HUMBERTO MARTINS (Relator):


Merece ser conhecido o presente recurso.


A responsabilidade civil é a possibilidade de invasão do patrimônio do devedor em face do descumprimento de uma prestação de natureza econômica, ou mensurável sob tal aspecto, criada pela sua vontade ou pela Lei.


O Direito moderno tem evoluído para aceitar a responsabilidade civil em deveres jurídicos não-patrimoniais, mas é certa a natureza econômica da relação de direito material, que apresenta-se como sustentáculo deste recurso especial.


O dever de informação ao consumidor tem natureza econômica, uma vez que a sua violação implica potencial enriquecimento sem causa do fornecedor, sendo certo que as pessoas jurídicas de direito público podem, com base no seu poder de polícia administrativa, impor sanções ao seu descumprimento na forma da Lei n. 9.933⁄99 e do CDC.


O Direito Comparado nos mostra a regulação exercida pelo estado nas relações de consumo, eis o art. L. 113-3 do Code de la Consummation da França:


"Art. L. 113-3 Tout vendedeur de produit ou tout prestataire de services doit, par voie de marquage, d'étiquetage, d'affichage ou par tout autre procédé approprié, informer le consommateur sur les prix, les limitations éventuellas de la responsabilité contractuelle et le conditions particulières de la vente, selon des modalités fixées par arrêtés du ministre chargé de l'econimie, aprés consultation du Conseil national de la consommation."


O Direito do Consumidor francês determina que todos os vendedores de produtos ou todos os prestadores de serviço devem, por meio de marcação, etiquetagem, exposição ou de qualquer outro meio idôneo, informar o consumidor sobre os preços, as limitações de responsabilidade contratual e as condições particulares de venda, nos termos da modalidades fixadas por ordem do Ministro da Economia, após consulta ao Conselho Nacional de Consumo.


Não há dúvida que todos os países optantes por políticas públicas de proteção ao consumidor estabeleceram também órgão ou entidade de regulação com poder de polícia administrativa e de regulamentar o direito de informação.


A República Federativa do Brasil deixou clara tal opção, ao estabelecer na sua atual Constituição que:


"Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios:

(...).

V - defesa do consumidor."


O INMETRO é um dos atores deste sistema de regulação, tendo sido criado como autarquia de execução pelo artigo 4º da Lei n. 5.966⁄73.


A atuação do INMETRO não é pautada apenas nas normas de Direito Administrativo, pois todos os agentes reguladores de atividade econômica apresentam um regime jurídico de regência híbrido, ou seja, as suas ações observam normas de Direito Público e normas de Direito Privado, estas últimas referentes às atividades-fim desenvolvidas pelas pessoas fiscalizadas.

A competência do INMETRO para o exercício do poder de polícia foi veiculada pela Lei n. 9.933⁄99, eis os artigos:


"Art. 3o O Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial - Inmetro, autarquia vinculada ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, criado pela Lei nº 5.966, de 1973, é competente para:

I - elaborar e expedir regulamentos técnicos nas áreas que lhe forem determinadas pelo Conmetro;

II - elaborar e expedir, com exclusividade, regulamentos técnicos na área de Metrologia, abrangendo o controle das quantidades com que os produtos, previamente medidos sem a presença do consumidor, são comercializados, cabendo-lhe determinar a forma de indicação das referidas quantidades, bem assim os desvios tolerados;

III - exercer, com exclusividade, o poder de polícia administrativa na área de Metrologia Legal;

IV - exercer o poder de polícia administrativa na área de Avaliação da Conformidade, em relação aos produtos por ele regulamentados ou por competência que lhe seja delegada;

V - executar, coordenar e supervisionar as atividades de Metrologia Legal em todo o território brasileiro, podendo celebrar convênios com órgãos e entidades congêneres dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios para esse fim." (grifo meu.)


"Art. 8º Caberá ao Inmetro e às pessoas jurídicas de direito público que detiverem delegação de poder de polícia processar e julgar as infrações, bem assim aplicar aos infratores, isolada ou cumulativamente, as seguintes penalidades:

I - advertência;

II - multa;

III - interdição;

IV - apreensão;

V - inutilização.


Parágrafo único. Na aplicação das penalidades e no exercício de todas as suas atribuições, o Inmetro gozará dos privilégios e das vantagens da Fazenda Pública."


Sobre a possibilidade do exercício do poder de polícia administrativa pela Administração Pública nas relações de consumo, pode ser listado o seguinte precedente:


"PROCESSO CIVIL. CONSTITUCIONAL. DIREITO DO CONSUMIDOR. MANDADO DE SEGURANÇA. CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. ART. 6°, INCISO III, E ART. 31. DECRETO N.º 90.595⁄84. PORTARIA SUPER 02⁄96 DA EXTINTA SUNAB. SISTEMA DE CÓDIGO DE BARRAS PARA INDICAR OS PREÇOS DAS MERCADORIAS. SUPERMERCADOS. PROCESSO ADMINISTRATIVO N.º 08012.001556⁄98-18. ADOÇÃO EM CARÁTER ALTERNATIVO: DE AFIXAÇÃO DIRETA, NOS BENS EXPOSTOS À VENDA, MEDIANTE ETIQUETAS OU SIMILARES, DO RESPECTIVO PREÇO À VISTA; OU, NA HIPÓTESE DE EXISTÊNCIA DE CÓDIGO DE BARRAS (DEC. 90.595⁄84), PROCEDER À INFORMAÇÃO DOS PREÇOS DAS MERCADORIAS EM LISTA APOSTA EM LOCAL VISÍVEL AO CONSUMIDOR. AUSÊNCIA DE DIREITO LÍQUIDO E CERTO. DEFESA DA ORDEM ECONÔMICA. DIREITO DO CONSUMIDOR À INFORMAÇÃO ADEQUADA E CLARA. SEGURANÇA DENEGADA.

I - É necessária a colocação de etiquetas em todos os produtos, mesmo se adotado mecanismo de código de barras com os esclarecimentos nas gôndolas correspondentes.

II - Por ser assegurado ao consumidor o direito de informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, não há que se falar em 'intervenção abusiva no domínio econômico', com desrespeito aos arts. 1°, IV, 170, 'caput' e inciso II e 174, 'caput', todos da C.F.-88, porque incensurável o despacho proferido pelo Excelentíssimo Ministro de Estado da Justiça, publicado no DO 1, de 14-08-98.

III - O poder hierárquico exercido pelo Ministro de Estado da Justiça teve por objetivo coordenar as atividades administrativas, no âmbito interno, e, assim o fez, na modalidade "revisão", bem como no exercício de poder de polícia, limitando direitos individuais em benefício da coletividade.

IV - É inerente à natureza normativa do despacho a repercussão em casos análogos, sendo mero sofisma a conclusão de seu caráter "erga omnes", porque o ato administrativo é ordinatório, sem invasão de competência legislativa da União."

(MS 5.943⁄DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, Primeira Seção, julgado em 29.2.2000, DJ 27.3.2000 p. 59.)

Fixada claramente a competência fiscalizatória do INMETRO, dever ser debatida a repercussão em todos os ramos do Direito da responsabilidade solidária dos fornecedores.

Na origem, a autuação deveu-se a duas irregularidades: a ausência de símbolo de identificação de certificação e a diferença quantitativa nos produtos. Trata-se, portanto, de violação do dever de informação e de vício quantitativo, sendo certo que ambas as hipóteses implicam, para todos os participantes da cadeia de consumo, responsabilidade solidária.

O conceito de responsabilidade solidária é apresentado pela seguinte norma do Código Civil de 2002:

"Art. 275. O credor tem direito a exigir e receber de um ou de alguns dos devedores, parcial ou totalmente, a dívida comum; se o pagamento tiver sido parcial, todos os demais devedores continuam obrigados solidariamente pelo resto.

Parágrafo único. Não importará renúncia da solidariedade a propositura de ação pelo credor contra um ou alguns dos devedores."

No Código de Defesa do Consumidor, é o caput do artigo 18 que trata da responsabilidade solidária por vícios de quantidade e pelas incorreções ou omissões nas indicações constantes do recipiente (dever específico de informação), eis o texto:

"Art. 18. Os fornecedores de produtos de consumo duráveis ou não duráveis respondem solidariamente pelos vícios de qualidade ou quantidade que os tornem impróprios ou inadequados ao consumo a que se destinam ou lhes diminuam o valor, assim como por aqueles decorrentes da disparidade, com a indicações constantes do recipiente, da embalagem, rotulagem ou mensagem publicitária, respeitadas as variações decorrentes de sua natureza, podendo o consumidor exigir a substituição das partes viciadas."

Ada Pellegrini Girnover, Antônio Herman de Vasconcellos e Benjamin, Daniel Roberto Fink, José Geraldo Brito Filomeno, Kazuo Watanabe, Nelson Nery Júnior e Zelmo Denari afirmam - no seu livro Código Brasileiro de Defesa do Consumidor: comentado pelos autores do anteprojeto, 9ª ed., Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2007, p. 215 - que:

"[1] SUJEIÇÃO PASSIVA - Preambularmente, importa esclarecer que no pólo passivo dessa relação de responsabilidade se encontram todas as espécies de fornecedores, coobrigados e solidariamente responsáveis pelo ressarcimento dos vícios de qualidade ou quantidade eventualmente apurados no fornecimento de produtos ou serviços.

Assim, o consumidor poderá, à sua escolha, exercitar sua pretensão contra todos os fornecedores ou contra alguns, se não quiser dirigi-la apenas contra um."

Esclarecedores também são os ensinamentos de Marcelo Kokke Gomes, no seu livro Responsabilidade Civil: dano e defesa do consumidor, Belo Horizonte: Del Rey, 2001, p. 76, de que a atuação conjunta dos fornecedores na confecção do produto final baseia-se em uma identidade de fim em suas ações. A introdução do produto final e sua venda é o intuito de todos os agentes que participam da escala produtiva, beneficiando-se todos da atuação conjunta que aumenta a produtividade e consequentemente o lucro de cada um deles. Se cada um dos agentes aufere benefícios com a atuação conjunta, devem também arcar com os malefícios desta. A teoria do risco formula uma responsabilidade comum de todos os agentes em relação ao produto final, pois todos exercem suas atividades em função deste, beneficiando-se uns da contribuição parcial dos outros, responderão também de maneira única, em razão da identidade de interesses que os une.

A responsabilidade do fornecedor é pela totalidade do produto final, não somente pela parte que contribuiu. Forma-se assim uma solidariedade entre os fornecedores intermediários e todos os participantes da cadeia produtiva diante dos possíveis danos que o produto final possa causar aos consumidores. A legislação brasileira perfilhou a responsabilidade objetiva caracterizada pela solidariedade passiva legalmente determinada entre os fornecedores e, eventualmente, também em relação ao comerciante, perante o consumidor em razão dos danos que o produto ou serviço provoquem neste. Observe-se que a ausência e manipulação da informação causam dano direto ao consumidor.

A norma que trata da relação de Direito Privado elege a responsabilidade solidária assim como a norma que trata da relação de Direito Público de regulação vincula também todos os atores da cadeia de consumo, eis o texto do artigo 5º da Lei n. 9.933⁄99:

"Art. 5º As pessoas naturais e as pessoas jurídicas, nacionais e estrangeiras, que atuem no mercado para fabricar, importar, processar, montar, acondicionar ou comercializar bens, mercadorias e produtos e prestar serviços ficam obrigadas à observância e ao cumprimento dos deveres instituídos por esta Lei e pelos atos normativos e regulamentos técnicos e administrativos expedidos pelo Conmetro e pelo Inmetro."

Não há dúvida, portanto, de que o vendedor pode ser responsabilizado solidariamente por ilícitos administrativos, civis e penais de consumo, pois a relação de consumo é una, e a sua repercussão nos outros ramos do Direito deve observar a sua natureza ontológica. Além disso, o argumento do comerciante de que não fabricou o produto e de que o fabricante foi identificado não afasta, in casu, a sua responsabilidade administrativa.

Ressalte-se, por fim, que não pode ser aplicado ao presente caso o disposto no § 5º do artigo 18 do Código de Defesa do Consumidor, uma vez que, conforme a sentença (fl. 319e), não se trata de produto in natura.

Ante o exposto, dou provimento ao presente recurso especial.

É como penso. É como voto.

MINISTRO HUMBERTO MARTINS

Relator

CERTIDÃO DE JULGAMENTO

SEGUNDA TURMA

Número Registro: 2009⁄0082309-1

REsp 1118302 ⁄ SC



Número Origem: 200572020007259

PAUTA: 01⁄10⁄2009

JULGADO: 01⁄10⁄2009



Relator

Exmo. Sr. Ministro HUMBERTO MARTINS

Presidente da Sessão

Exmo. Sr. Ministro HUMBERTO MARTINS

Subprocuradora-Geral da República

Exma. Sra. Dra. MARIA CAETANA CINTRA SANTOS

Secretária

Bela. VALÉRIA ALVIM DUSI

AUTUAÇÃO

RECORRENTE

:

INSTITUTO NACIONAL DE METROLOGIA NORMALIZAÇÃO E QUALIDADE INDUSTRIAL INMETRO

PROCURADOR

:

MOZART LEITE DE OLIVEIRA JUNIOR E OUTRO(S)

RECORRIDO

:

MACRO ECONOMIA DISTRIBUIDOR DE ALIMENTOS LTDA

ADVOGADO

:

RICARDO CARLOS RIPKE E OUTRO(S)

ASSUNTO: DIREITO ADMINISTRATIVO E OUTRAS MATÉRIAS DE DIREITO PÚBLICO - Atos Administrativos - Infração Administrativa - Multas e demais Sanções


CERTIDÃO


Certifico que a egrégia SEGUNDA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:


"A Turma, por unanimidade, deu provimento ao recurso, nos termos do voto do(a) Sr(a). Ministro(a)-Relator(a)."

Os Srs. Ministros Herman Benjamin, Mauro Campbell Marques, Eliana Calmon e Castro Meira votaram com o Sr. Ministro Relator.


Brasília, 01 de outubro de 2009


VALÉRIA ALVIM DUSI

Secretária

Documento: 917134

Inteiro Teor do Acórdão

- DJ: 14/10/2009